quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Bom-dia!

Acordo de manhã, bem cedo, e procuro alguém para sorrir e dizer bom-dia. Encontro o jornal Zero Hora, pedindo para ser aberto e lido para não se ficar completamente alienado do que vai pelo mundo. Primeira notícia, em manchete bem grande, é negativa: “BOLSA DESPENCA NOS EUA E CAUSA APREENSÃO MUNDIAL”. Meu coração se alarma, e o sorriso quase some do meu dia. Mas, sou teimosa, e ainda acho que vale a pena abrir os olhos para mais um dia de vida aqui neste Planeta. Meus olhos percorrem a primeira página do Jornal, e lá vem outra bomba: “ESCOLA ANTECIPA FÉRIAS POR FALTA DE SEGURANÇA”. Já não há revolta que caiba no peito, pois os humildes cidadãos pagam impostos e mais impostos, e o governo simplesmente está se omitindo de suas funções mais caras, que são a saúde, a educação e a segurança pública. Mais parece que está ao lado dos bandidos e querem destruir o mais rapidamente possível o que ainda nos sobra de Humanidade. Lá adiante, o Jornal grita: “DOUTOR MORTE MATOU PELO MENOS 215 PESSOAS”. Simplesmente, não sei mais o que pensar. Fecho o jornal e caminho pela minha cidade, ainda com vontade de dizer bom-dia para alguém, (afinal, ainda vivemos num cantinho sossegado do planeta, e podemos nos dar ao luxo de sermos felizes). Encontro fulana, que me conta da incrível depressão que a está assolando há um bom tempo. Não consigo sorrir, porque sei o que significa passar por uma depressão nos dias modernos. É solidão demais!!! Continuo percorrendo o meu caminho, e encontro alguém que, com toda a certeza, vai me dizer um bom-dia. Mas, a pessoa que passa por mim, mal tem tempo de xingar o governo por causa do aumento da gasolina, dos remédios e dos juros bancários. Olho para o céu e vejo o sol brilhando com toda a intensidade, tornando quase agradável o frio deste inverno. Hoje, decidi que vou ser feliz, e continuo procurando alguém para dar um bom-dia. Mas, fulano reclama – com razão – da colheita que não rendeu, e minha amiga quer contar sobre a superação do seu menino paraplégico, mas chora de dor, porque ainda não aceitou a situação da criança. Meu coração salta de desespero pelo filho dela, mas ele representa uma lição de vida para mim, e na sua luta desigual posso compreender a força que vem do Amor, chame-se ele Deus ou Perseverança. Quero chorar, mas ao mesmo tempo tenho que sorrir, porque ali está um menino de ouro reagindo com fortaleza contra as suas limitações.Penso para mim mesma, como é difícil imaginar alguém dando um bom-dia nestes tempos cheios de dor. Voltei para casa, e ainda havia serenidade dentro de mim, porque hoje acordei pensando em Deus e na força que vem do interior do coração e da mente. Entrei no meu quarto, peguei novamente o jornal, e busquei a penúltima página, procurando um alento no espaço dos poetas, que sabem como ninguém transformar a miséria da vida em ternura. Uma simples poesia trouxe-me de volta a tranqüilidade e foi então que descobri que vou morrer de poetar, porque, entre a queda da bolsa e a subida do crime organizado, tenho certeza de que sou iluminada quando posso ainda erguer os olhos para o céu, e dizer bom-dia a mim mesma, porque, importante de verdade, é o amor que a vida traz ao nosso coração e a coragem de procurar sempre algo de bom nas coisas mais simples da vida.

2 comentários:

Aline Barbosa disse...

Então...
É triste, mas esse tipo de coisa é bem comum.
Às vezes, a gente procura um sorriso e percebe q só tem lágrimas em volta...
É complicado, mas é meio inevitável...

Enfim... Gostei do texto, Rafa. Bjo!
\o7

Eliana Mara disse...

Rafaela, texto muito bom.
E infelizmente, está acabando o semestre.
Estou dando uma passada em todos os blogues, para dar um feedback, de avaliação do percurso.
Acho que faltou empenho e dedicação e postagens de textos de sua autoria. E é incrível como o teu ultimo texto, está tão bem escrito.
Então, mesmo que para este semestre tua dedicação tenha sido pequena, no blogue, continue escrevendo. Você tem potencial!
Aproveite o estímulo.

Abracinhos felizes e boas férias